O menos uso das coisas


"Há duas catástrofes na existência:
a primeira é quando nossos desejos não são satisfeitos;
a segunda é quando são”.
(George Bernard Shaw)


Tema do dia: Frugalidade

Esta palavra é bastante significativa. Frugalidade não é sinônimo de pobreza, como muitos pensam: uma pessoa que é frugal, é uma pessoa que tem prazer com o que tem, vive bem com poucas coisas e consome por necessidade e/ou utilidade; e não por consumismo. Para ser frugal deve-se, antes de uma compra, perguntar-se: "Preciso mesmo disto?", "Isto vai me fazer mais feliz?" e não se render à pressão social e mercadológica pelo status e consumismo.

Também não é preciso radicalizar abdicando de tudo o que tem:

André Comte-Sponville, o inspirado pensador francês contemporâneo, acredita que, para ser feliz, é preciso estar no estado de desespero – não na idéia que conhecemos desse sentimento, mas no desespero (ou desesperança) de quem não espera mais nada, ou seja, de alguém que não sofre mais por não ter e está satisfeitíssimo com aquilo que tem.

Diz Sponville (no livro A Felicidade, Desesperadamente) que o desejo primordial do ser humano é justamente desejar tudo aquilo que não tem: o emprego dos sonhos, a pessoa amada, dinheiro...

Nosso desejo de ser feliz está baseado na falta, dizia o filósofo holandês Spinoza, cujo pensamento Sponville analisa em seu livro. E, quando conseguimos realizar algum desses anseios, automaticamente surge outro desejo em seu lugar.”

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Ensinamento do dia: A frugalidade dos desejos é o ponto básico dos filósofos epicuristas, por exemplo. Diferentemente do que se pensa hoje, eles não propunham uma orgia de prazeres sensuais, um hedonismo desenfreado. Afinal, eram gregos e sábios. O que diziam é que, para fruir verdadeira e intensamente a felicidade e o prazer, era preciso escolher. Portanto, “hay que saber selecionar”. E a lista do que realmente pode nos fazer felizes tem de ser bem restrita, pensada. Exigências demais atrapalham, desejos demais também.“Menos, menos”, nos segreda a sabedoria grega. Mais despojados ainda eram os filósofos estóicos. Eles também não sofriam estoicamente, como se acredita hoje, nem eram masoquistas. Os estóicos simplesmente diziam que para não sofrer, para não ser infeliz, é melhor não se ter nada.

Fonte de ambos textos citados:

3 comentários:

Anônimo disse...

Que contradicao nao eh mesmo? Aquilo que nos falta eh geralmente o que imaginanos nos fazer feliz...
Bom domingo pra ti tb,
Bia.

Ana Paula Montandon disse...

Mélica,
Ótimo tema! Às vezes dá vontade de sair atropelando este consumismo absurdo das pessoas e gritar: Calma, gente!!!
Ah, e eu adoro os estóicos.
Beijo pra você.

Chawca disse...

O duro é responder a essa pergunta com sinceridade, pq se vc perguntar se aquilo é necessario, a pessoa te dá mil motivos pra te convencer que sim.... e esses mesmos mil motivos a fazem crer que sim, quando na verdade e lá no fundo a resposta é não..

É nessas horas que o bordão da Ana Maria Braga faz um certo sentido: Acorda menina!

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